terça-feira, 6 de setembro de 2011

Currículo...

Currículo




Jussara Batista
 Arte Educadora


 Jussara de Fátima Batista
     Av. São José, nº. 700 – Aptº. 26 / bl. D. Cristo Rei.
Curitiba - Paraná     Cep: 80050-350
              (41) 3029-9313 (41) 8863 6546
              ju.fat@hotmail.com







FORMAÇÃO


1999: Artista / Atriz

Curso Profissionalizante de Ator. Colégio Estadual do Paraná. Registrado na Delegacia Regional do Trabalho DRT nº. 17097 / PR

2006: Licenciatura em Artes Cênicas

Faculdade de Artes do Paraná - FAP;

2011: Pós-graduação em História Cultural (em processo). Universidade Tuiuti do Paraná – UTP.
                  




ESPECIFICAÇÕES PROFISSIONAIS


Performance, Arte Educação e participação em eventos culturais.

2011:

. Professora da Oficina de Dramatização - Ens. Fundamental. Escola Terra Firme/ CTBA-PR.

. Apoio técnico de oficinas teatrais. Escola do Ator Cômico. / CTBA-PR.

. Assistência de produção de shows, eventos e espetáculos. Banalíssima Arte. / CTBA-PR.


2010:

. Professora de Oficina Teatral da Escola Social Marista Ecológica – Almirante Tamandaré.

° Integrante performática/entreatos da Mostra Cena Breve 2010. Realização Cia. Senhas de Teatro.

° Integrante do espetáculo Pirão de Letras. Direção: Rafael Camargo. Treinamento de funcionários da Prefeitura Municipal de Curitiba.

° Performance de divulgação da Corrente Cultural. Direção: Rafael Camargo. Realização: Prefeitura Municipal de Curitiba.

° Leitura Dramática do texto ‘Murro em ponta de faca’, de Augusto Boal. Direção: Nena Inoue. Realização: Espaço Cênico

° Integrante da Trupe da Saúde. Grupo de médicos - clowns, visitantes dos hospitais: Pequeno Príncipe, H C, Erasto Gaetner, Cruz Vermelha e Evangélico. Orientação de Mauro Zanatta. Realização: Trento Produções Artística.

° Produção e execução do ‘Evento Portátil’, encontro artístico e leitura dramática dirigida por Márcio Mattana, realizada na Escola do Ator Cômico Ctba-PR;


2009     Monitoria Caixa Cultural / Exposições e oficinas;

° Diretora artística da Formatura - Escola Terra Firme Ctba-PR., realizada no Teatro Regina Vogue;

 2008/2009 Ministrante da Oficina Vivência Teatral pela Secretaria de Estado da Cultura, Ofertada aos grupos teatrais e comunidades dos Municípios:
Telêmaco Borba-PR / Nova Esperança - PR / Curitiba-PR.

° Ministrante da oficina Livre de Teatro. Local: Col. Stella Maris. Curitiba. 

° Projeto FERA Com Ciência – Secretaria de Estado da Educação. / Performática (Clown). Etapas semanais: Dois Vizinhos, Campo Mourão, Toledo, Guarapuava e Cascavel. Secretaria de Estado da Educação.

2006/2008 Professora de Artes - PSS Ensino Fundamental e Médio pela Sec. de Estado da Educação, nas seguintes escolas: Col. Cruzeiro do Sul - Curitiba. / Prof. Mário Braga - Piraquara. / Prof. Cleto - Curitiba. / Col. Nossa Senhora de Fátima - Curitiba.

2005 Ministrante da Oficina Vivência Teatral através do Projeto Difusão Cultural-FCC. Local: CEI Carlos Drumonnd de Andrade – Bairro Novo.

2004  Produção do Festival de Monólogos - Troféu Raul Cruz. Local: Espaço Multiprocessador.
2003/2004 Multiprocessador – Núcleo de Pesquisa de Comédia (Residências Culturais - Novo Rebouças/FCC). Atriz, arte educadora e pesquisadora;
2002 Projeto Comboio Cultural (Ônibus Biblioteca)
- Secretaria de Estado da Cultura. / Contadora de Histórias.
2001/ 2005 Promoções e eventos. Função: Produção, Atriz, Promotora, Recreadora e Monitora. Local: Nana Bacana Produções Artísticas
1999/ 2000   Estágio via IMAP – Instituto Municipal de Administração Pública. Local: Fundação Cultural de Curitiba / Projeto Linhas do Conhecimento. Função: Instrutora social / Arte-educadora.   

Filmes: “O Sal da Terra” / Direção: Eloi Pires Ferreira (2003)

             
Atriz. Menção Honrosa/Melhor Filme PUTZ Festival de Cinema Universitário. Camisa Amarela. Zurrapa Filmes. Direção: Marlon de Toledo.


Vídeos institucionais: IESDE BRASIL S/A 2006 / 2007
                       EDITORA AYMARÀ 2009





ATRIZ
Espetáculos



“Noite de Reis - Ouoqqserdes” – Direção: Mauro Zanatta (2010 / 2011)

“Pirão de Letras” – Direção: Rafael Camargo (2010)

 “O Esquema” – Direção: Diego Fortes. (2010)

 “A Viagem de Retalhos” – Direção: Mauro Zanatta. (2009)

 “O Papel Roxo da Maçã” – Direção: Mauro Zanatta. (2009)

 “Elizaveta Bam” – Direção: Marcio Mattana (2006)

 “Iracema 236 ml” – Direção: Giorgia Conceição e Léo Glück (2005)

 “Lingüiça no Campo”, “As Fabulosas”, “Preta Porquê” –    Direção:Rafael Camargo(2003/2004)

 “Romeu e Julieta” - Direção: Marcio Mattana (2001/2002)

 “O Messias” – Direção: Laércio Ruffa (2001)

 “Lágrimas Puras em Olhos Pornográficos” – Direção: Edson Bueno (2001)

 “O Despertar da Primavera” - Direção: Marcio Mattana (1999/2000)

 “Bailei na Curva” – Direção: Guta Borges (1997/1998)  






QUALIFICAÇÃO


2006          Pesquisa de Extensão Universitária As relações de interdependência na construção das ações físicas. (Aluna pesquisadora). Orientadora: Cristiane Souza. FAP, Mar/2006.

2007          I Simpósio de Pesquisa em Artes da Faculdade de Artes do Paraná. Apresentação de resultados, mesa de discussões e exposição de trabalho. Projeto: “A pertinência da utilização do gênero cômico nas aulas de Arte do Ensino Médio”, orientado pela Doutora Margarida Rauen. Local: Faculdade de Artes do Paraná. FAP. Curitiba – PR (06 a 09 de março de 2008).



Últimas oficinas de aperfeiçoamento:

“Clown”, ministrado por Mauro Zanatta / Ctba. (agosto - 2011). Local: Escola do Ator Cômico.
“O Universo Clown”, ministrado por Mauro Zanatta / Ctba. (dezembro - 2009). Local: Escola do Ator Cômico.
“Comédia para Atores e Não Atores”, ministrado por Mauro Zanatta / Ctba.  (outubro - 2009). Local: Escola do Ator Cômico.
“Oficina Palhaço/ Clown”, ministrada por Márcio Ballas / SP. (julho – 2009). Local: Cia. dos Palhaços.
“Oficina Energia à Ação”, ministrada por Carlos Simioni / USP - SP. (maio – 2009). Local: ACT. Ateliê de Criação Teatral.




sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Bom, como vocês podem perceber só voltei agora de viagem...Desta vez eu estava em Shangrilá, lá permaneci incomunicável, no 1.99 que trabalhei só tínhamos Word e paciência spider, por todo esse tempo... (ver data da última postagem). Então peguei minhas economias e entrei nessa lan house próxima da rodoviária, sabem?! E posto, nesse momento de retorno, as "coisas" pelas quais refleti em minhas inusitadas "viagens"! Abrindo esse bloco chamamos Clarice Lispector:





O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo. Estou pensando.”
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: “Até tu, Brutus?”

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por iss o é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.


(Clarice Lispector)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Inspiradores II

Inspiradores I

O Clown - Luís Otávio Burnier

O clown é a poesia em ação.
Henry Miller

Segundo Roberto Ruiz, a palavra clown vem de clod, que se liga, etimologicamente, ao termo inglês "camponês" e ao seu meio rústico, a terra (1). Por outro lado, palhaço vem do italiano paglia (palha), material usado no revestimento de colchões, porque a primitiva roupa desse cômico era feita do mesmo pano dos colchões: um tecido grosso e listrado, e afofada nas partes mais salientes do corpo, fazendo de quem a vestia um verdadeiro "colchão" ambulante, protegendo-o das constantes quedas (2).

Na verdade palhaço e clown são termos distintos para se designar a mesma coisa. Existem, sim, diferenças quanto às linhas de trabalho. Como, por exemplo, os palhaços (ou clowns) americanos, que dão mais valor à gag, ao número, à idéia; para eles, o que o clown vai fazer tem um maior peso.

Por outro lado, existem aqueles que se preocupam principalmente com o como o palhaço vai realizar seu número, não importando tanto o que ele vai fazer; assim, são mais valorizadas a lógica individual do clown e sua personalidade; esse modo de trabalhar é uma tendência a um trabalho mais pessoal. Podemos dizer que os clowns europeus seguem mais essa linha. Também existem as diferenças que aparecem em decorrência do tipo de espaço em que o palhaço trabalha: o circo, o teatro, a rua, o cinema, etc.

O clown ou palhaço tem suas raízes na baixa comédia grega e romana, com seus tipos característicos, e nas apresentações da commedia dell'arte (3). Nas festividades religiosas e nas apresentações populares da Antigüidade, havia uma alternância entre o solene e o grotesco. Esse é um fato comum a povos distintos: dos gregos até os aborígines da Nova Guiné, passando pelos europeus da Idade Média ou pelos lamaístas do Tibete.

Esta combinação do cômico e do trágico acentua a percepção de emoções contrapostas e é muito peculiar ao clown. Para Shklovski (4), o clown faz tudo seriamente. Ele é a encarnação do trágico na vida cotidiana; é o homem assumindo sua humanidade e sua fraqueza e, por isso, tornando-se cômico.


"Os palhaços sempre foram parte integrante do circo. Num espetáculo de perícia física, que produz na assistência uma reação mental - deslumbramento, espanto, admiração e apreensão - é preciso haver um complemento: um conceito mental que produza no público uma reação física, ou seja, o riso" (5). O clown espanta o medo, esta é a sua função.

Existem dois tipos clássicos de clowns: o branco e o augusto. O clown branco é a encarnação do patrão, o intelectual, a pessoa cerebral. Tradicionalmente, tem rosto branco, vestimenta de lantejoulas (herdada do Arlequim da commedia dell'arte), chapéu cônico e está sempre pronto a ludibriar seu parceiro em cena. Mais modernamente, ele se apresenta de smoking e gravatinha borboleta e é chamado de cabaretier. No Brasil, é conhecido por escada.

O augusto (no Brasil, tony ou tony-excêntrico é o bobo, o eterno perdedor, o ingênuo de boa-fé, o emocional. Ele está sempre sujeito ao domínio do branco, mas, geralmente, supera-o, fazendo triunfar a pureza sobre a malícia, o bem sobre o mal. Adoum afirma que a relação desses dois tipos de clowns acaba representando cabalmente a sociedade e o sistema, e isso provoca a identificação do público com o menos favorecido, o augusto.

Os tipos cômicos: elementos de uma generalogia

Os tipos característicos da baixa comédia grega e romana; os bufões e bobos da Idade Méida; os personagens fixos da commedia dell'arte italiana; o palhaço circense e o clown possuem uma mesma essência: colocar em exposição a estupidez do ser humano, relativizando normas e verdades sociais.

Segundo Bakhtin, a cultura cômica popular da Idade Média, principalmente a cultura carnavalesca, possuía uma grande diversidade: festas públicas carnavalescas; ritos e cultos cômicos especiais; os bufões e tolos; gigantes, anões e monstros; palhaços de diversos estilos; a literatura paródica etc. (6) O riso carnavalesco abalava as estruturas do regime feudal, abolia as relações hierárquicas, igualava pessoas que provinham de condições sociais distintas. Era contrário a toda perpetuação, a toda idéia de acabamento e perfeição, mostrando a relatividade das verdades e autoridades no poder. Todos são passíveis de riso e ninguém é excluído dele; era a percepção do aspecto jocoso e relativo do mundo.

Os bufões e bobos, por exemplo, assistiam sempre às funções cerimoniais sérias, parodiando seus atos, construindo ao lado do mundo oficial uma vida paralela. Esses personagens cômicos da cultura popular medieval eram os veículos permanentes e consagrados do princípio carnavalesco na vida cotidiana. Os bufões e bobos não eram atores que desempenhavam seu papel no palco; ao contrário, continuavam sendo bufões e bobos em todas as circunstâncias da vida. Encarnavam uma forma especial de vida, simultaneamente real e irreal, fronteiriça entre a arte e a vida.

Nos séculos XV e XVI, surgiu a chamada commedia dell'arte, ou comédia de máscaras. Esta típica forma de teatro do Renascimento italiano teve, conforme Gassner, uma dupla origem na arte da mímica que, brotando dos farsistas populares do período romano, evoluiu até os atores-jograis ambulantes da Idade Média e das comédias formais de Plauto e Terêncio. (7)

A commedia dell'arte era baseada num roteiro (canovaccio), que servia como suporte para que os atores improvisassem. Esse roteiro não era um texto estruturado: indicava apenas as entradas e saídas dos atores, os monólogos, os diálogos, episódios burlescos, os cantos e danças. Personagens fixos e situações codificadas facilitavam o jogo espontâneo da improvisação (8)

Esse teatro teve uma grande aceitação na época, pois era do universo cotidiano do público que os atores tiravam a base para sua representação. Fazia descrições vivas de tipos característicos e costumes contemporâneos, envoltas em tramas de intriga amorosa. Os velhos eram satirizados como tolos, e intermináveis variações eram indroduzidas no tema da traição e do marido traído.

Os personagens eram fixos e possuíam máscaras próprias, cujas linhas revelavam o caráter pessoal de cada um. Os principais eram: Pantalone, o velho, rico e tolo mercador de Veneza; Dottore, personificação do pedantismo dos intelectuais da época; Capitão Mata-Mouros, soldado fanfarrão e covarde, metido a valente; Arlecchino, servo esfomeado e atrapalhado; Brighella, servo astuto e briguento; Pulcinella, ora servo, ora patrão, de índole cruel e violenta; Os Enamorados, jovens apaixonados e sensíveis. Embora mascarados e tipificados, eram fortemente individualizados quanto à fala e dialeto. Geralmente, os intérpretes assumiam um papel por toda a vida. (9)

Na commedia dell'arte apareceram, de certa forma, resquícios da dupla de cômicos, os zanni, servos da commedia dell'arte, cuja relação se aperfeiçoará nos clowns. A eles cabia a tarefa de provocar o maior número de cenas cômicas, por suas atitudes ambíguas e suas trapalhadas e trejeitos. Existiam dois tipos distintos de zanni: o primeiro fazia o público rir por sua astúcia, inteligência e engenhosidade. De respostas espirituosas, era arguto o suficiente para fazer intrigas, blefar e enganar os patrões. Já o segundo tipo de criado era insensato, confuso e tolo. Na prática, porém, havia uma certa "contaminação" de um pelo outro. O primeiro zanni é mais conhecido como Brighella, e o segundo como Arlecchino.

Pelas características acima descritas, não é difícil relacionar a dupla de zanni à dupla de clowns, o branco e o augusto.

A essência do circo acompanha desde muito o cotidiano do homem. Segundo Ruiz, pesquisadores afirmam que no ano de 70 a.C., em Pompéia, já existia um enorme anfiteatro destinado a exibições de habilidades que posteriormente seriam caracterizadas como circenses. Por outro lado, na China, já por volta de 200 a.C. as artes acrobáticas se encontravam em desenvolvimento. Números até hoje tradicionais, como o equilíbrio sobre corda bamba, magia, engolir espadas e fogo, já eram conhecidos e praticados, naquela época, pelos chineses. (10)

O circo tal como existe em nossa concepção nasceu há pouco tempo. A criação do circo moderno se deu em 1768, por Philip Astley, em Londres. Astley, um ex-sargento auxiliar de cavalaria, hábil treinador de cavalos, foi o primeiro a descobrir que, se galopasse em círculos, de pé sobre o dorso nu do cavalo, teria o equilíbrio facilitado pela força centrífuga. Estava inventado, então, o picadeiro. Durante 150 anos, os cavalos dominaram os espetáculos circenses, mas pouco a pouco outros artistas se incorporaram à trupe. (11)

Já na época de Philip Astley, exímios cavaleiros realizavam o célebre número do "recruta da cavalaria", em que simulavam camponeses simplórios e astutos que, com suas extravagâncias, divertiam as platéias. Naquela época também surgiu na Inglaterra a dupla branco-augusto: no trabalho de dois grandes cavaleiros do século XVIII (Saunders e Fortinelli), que exploravam os números de "grotesco a cavalo". (12)

É interessante notar que existe maior riqueza na comicidade quando os dois tipos atuam em dupla, pois um serve de contraponto ao outro. Eles são encontrados tanto nos espetáculos circenses da Inglaterra como nos dois zanni da commedia dell'arte.

O clown também desempenha função semelhante à dos bufões e bobos medievais, quando brinca com as instituições e valores oficiais. Ele, pelos nomes que ostenta, pelas roupas que veste, pela maquiagem (deformação do rosto), pelos gestos, falas e traços que o caracterizam, sugere a falta de compromisso com qualquer estilo de vida, ideal ou institucional. É um ser ingênuo e ridículo; entretanto, seu descomprometimento e aparente ingenuidade lhe dão o poder de zombar de tudo e de todos impunemente. O princípio desmistificador do riso, presente na cultura popular medieval renascentista, apareceu no cômico circense, fundamentado, basicamente, na figura do palhaço.

Em suas andanças através do tempo, o clown ocupou diversos espaços: a rua, a praça, a feira, o picadeiro, o palco. Com o advento do cinema, no início do século XX, ele encontrou um novo lugar para continuar revelando à humanidade seu lado ridículo e patético.

O primeiro clown do cinema foi o francês Gabrielle Leuvielle, que tem por pseudônimo Max Linder. Ele dirigia e atuava em seus filmes. Exatamente como os clowns, Max Linder utilizava tudo o que sabia fazer (dançar, saltar, montar a cavalo, etc.). Sua motivação era o desejo de fazer um número circense, exemplo que será seguido por todos os seus sucessores até Jerry Lewis. Os argumentos que tinha por tema eram sempre, como nas entradas de clowns, extremamente simples. Eram as sucessões de gags que mantinham o interesse; o roteiro não passava de um pretexto para a criação de situações cômicas, assim como na commedia dell'arte. Max Linder buscou sua inspiração no teatro de vaudeville (teatro cômico musical, apresentado em bares e cabarés). E, sobretudo, no circo. (13)

Os clowns do cinema retomaram diversas gags já usadas anteriormente por outros colegas de cinema ou por clonws de circo. Chaplin, em Em busca do ouro, na "dança dos pequenos pães" se inspirou nos fantoches de barracas de feiras. "Nada mais natural, pois este costume vem justamente do circo, onde, ao redor das mesmas receitas, brilham os cozinheiros de diferentes gostos". (14)

Com freqüência, os cômicos do cinema transportavam diretamente para seu veículo um trabalho própriol do circo. Todos esses cômicos se formaram nas escolas do circo e do music-hall. Cada um deles era acrobata, dançarino, malabarista, cuspidor de fogo, mímico. E é bastante normal que eles retenham de suas origens tudo o que pode enriquecer esta nova arte: o cinema.

Como nos clowns do circo europeu, eles criaram para o cinema tipos originais e únicos - diferentemente do comediante, que deve poder encarnar personagens os mais diversos. Carlitos é o clown de Chaplin, pessoal e único, não importando se desempenha o papel de O grande ditador, do vagabundo de O garoto ou do operário em Tempos modernos.

Do ponto de vista da técnica do clown utilizada, alguns desses tipos do cinema chegaram a um grande nível de requinte. Dentre eles, destacaria Charles Chaplin, a dupla Hardy e Laurel (o Gordo e o Magro), Buster Keaton, Harold Lloyd, Jacques Tati, Jerry Lewis, Mazzaropi, Oscarito, Grande Otelo e outros.

O clown é a exposição do ridículo e das fraquezas de cada um. Logo, ele é um tipo pessoal e único. Uma pessoa pode ter tendências para o clown branco ou o clown augusto, dependendo de sua personalidade. O clown não representa, ele é - o que faz lembrar os bobos e os bufões da Idade Média. Não se trata de um personagem, ou seja, uma entidade externa a nós, mas da ampliação e dilatação dos aspectos ingênuos, puros e humanos (como nos clods), portanto "estúpidos", de nosso próprio ser. François Fratellini, membro de tradicional família de clowns europeus, dizia: "No teatro os comediantes fazem de conta. Nós, os clowns, fazemos as coisas de verdade." (15)

O trabalho de criação de um clown é extremamente doloroso, pois confronta o artista consigo mesmo, colocando à mostra os recantos escondidos de sua pessoa; vem daí seu caráter profundamente humano.

Notas

(*) Este texto corresponde aos 3 primeiros tópicos do capítulo 8 (O clown e a improvisação codificada) do livro A arte de ator: da técnica à representação, de Luís Otávio Burnier, editora da Unicamp, Campinas, 2001. Para comprar esse livro e conhecer as outras publicações do Lume visite o site do Grupo.

(1) RUIZ, R. Hoje tem espetáculo? As origens do circo no Brasil. INACEN, MINC, Rio de Janeiro, 1987..

(2) Idem, ibidem.

(3) Idem, pág. 15.

(3) SHKLOVSKI, V. "El clown, la comedia y la tragedia", in El circo soviético.Progresso, Moscou, 1975, pág. 32.

(5) COXE, A. H. "No começo era o picadeiro", O Correio da Unesco, Paris, nº 3, ano 16, mar., 1988, pág. 6.

(6) BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Hucitec-UnB, Brasília, 1987, págs. 3-4.

(7) GASSNER, J. Mestres do teatro. Perspectiva, São Paulo, 1974, vol. I, pág. 191.

(3) MAGNANI, J. G. C. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade. Brasiliense, São Paulo, 1984, págs. 63-64.

(9) GASSNER, J. Op. cit., vol. I, pág. 191.

(10) RUIZ, R. Op. cit., pág. 14-16.

(11) Idem, pág. 17.

(12) Idem, pág. 18.

(13) ÉTAIX, P. "Les clowns et le cinéma", in Clonws et Farceurs (org. J. Fabbri e A. Sallée), Bordas, Paris, 1982, pág. 159.

(14) Idem, pág. 161.

(15) Idem, pág. 162.

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